Neste natal, neste natal, neste natal. Repita forte comigo: serei feliz como nunca fui. Como fui neste natal feliz, fui como neste natal nunca fui o que serei neste natal como nunca. Fui. Feliz.
Meninos, ainda virei. E vi. À noite todos são felizes, quando dormem os meninos, eu sei. Vi que todos dormem na noite de natal que fui feliz no jardim, na rua, na fazenda com os cavalos. Eu durmo, eu durmo. No viaduto a melhor iluminação da cidade, meninos eu os vi adultos e felizes com fogos na mão e bocas na comida; eu fui porque vi. Feliz eu serei menino dentro do peito de mim. Imprudente: menino, menino, Jesus nunca vi neste natal.
Também nunca fui a Natal, mas Belém que eu pude ver, eu vi pela TV. Belém que pude na Tv. No templo de Jesus o pessoal sabia da 25 de março? Não sabia porque não tinha TV. E nunca fui também no que fui 25 pra nascer menino ali perto do Parque Dom Pedro, na calçada suja de papéis de caixa de maça jogada no lixo. Eu gritei:
- Feliz, mamãe, é natal!
Não tinha neve, tinha os caras da prefeitura jogando água com o caminhão pipa pra lavar a 25.
Olhei para minha mãe e ela disse firme, com a boca cheia de pão sírio achado no lixo dali de perto:
- Você pode, você é o máximo, meu garoto. Acredite, isto não é um filme, mas isso é neve, é neve. Creia.